A SOLIDÃO

A solidão é uma cova profunda que você próprio escava,

desde o balancinho de tábua que há muito o embalava

naquele cenário quase caótico dos segredos da sua casa,

quando todos os fantasmas sujos da sua infância gritavam.

Foi ali mesmo que compreendeu, com os amigos de plasma,

que as pessoas do mundo não conseguiam olhar na sua cara.

Por isso o condenaram à cartografia cega do deserto isolado,

onde jogaram uma trena para que você medisse o seu buraco.

Mais tarde é nele em que o seu corpo será trancado sem alma

alguma do lado, estendido sob as letras de um falso epitáfio

e coberto da terra podre que se repete na idêntica empreitada

— a de encerrar duzentos e seis ossos na madeira aglomerada

de um caixote de feira sem alças, palma, poema ou batucada.

— E ninguém veio para beber um gole da sua última cachaça