LUZ NEGRA
Se eu tivesse o dom de mudar
para outro lugar, sim, eu voaria,
mais rápido do que a luz, e, lívido,
poria os meus lábios nos teus lábios,
todos os quatro, mas, nos de baixo,
o pouso seria bem mais demorado.
Por entre as tuas pernas, as agonias
da manhã oliva que nasce em poesia
— e avança nas vísceras da nova
safra do mel selvagem da aurora,
dos ecos dos uivos que levitaram
na poltrona roxa da madrugada.
No vapor cinza do meio da melodia
do profundíssimo azul do meio-dia.