AMARRADO NO POSTE

Sob as exéquias da manhã temperada que anuncia

— na fumaça branca da nuvem — que a curva da via

se dividirá na camuflagem dos ponteiros do meio-dia

e de todo o hectare das horas que ornam o súbito vazio

do adro no relógio de chumbo das onze e cinquenta e cinco.

Ouço os cães da avenida no tremor dos bêbados assíduos

dos botequins e do álcool forte que a amargura destila.

Caio nos hiatos assimétricos da calçada. Sinto a alma fria

feito um cano de pistola; feito o sangue de uma harpia.

Suspiro na minha overdose de mágoas de coisas antigas

que insistem no roxo das veias e no raso d'água das vistas.

Subo a passarela sozinho. Fito o horizonte. E sobre a linha

férrea não insisto no desejo de seguir adiante nessa vida.

Paro no poste. Fumo. E pergunto: por que estou aqui ainda?