Eu, mulher
Nasci, cresci, amadureci.
Vivi e notei que sou parte errônea da camada;
Me fizeram reputar que preciso ser boa,
forte, elegante, retíssima — o tempo todo—
Enfrentar a vida e defender a prole como leoa.
Sentir? Que despautério!
Não temos tempo pra isso,
nossa incumbência é servir... Aos ideais beatérios,
Herdados num berço submisso:
— Lave o rosto, apague o vermelho dos lábios
Onde já se viu mulher bem vista sair assim?
Prenda o cabelo, não use saltos
Já fez o almoço? E a casa, asseou enfim?
O menino pranteando no quintal, não vai olhar?
O jornal, a gravata, os sapatos... meu café, onde está?
Anda, não faz nada.
Cansei, que mulher despreparada.
Não foi feita pra casar.
Por fim... Assimilei.
Fiz minhas malas e as correntes deixei.
Passei meu batom, soltei o cabelo e até mesmo sorri
Fui me encontrar, me conhecer, me permitir.
"Não era mulher pra casar"
Demorei, mas inferi.
Era mulher... Simples e inteiramente mulher.
Geograficamente esculpida, historicamente eloquente;
Poesia em cada sílaba, de todo verso decorrente.
Era vênus, saturno...
Era tudo que pudesse almejar
Era céu escuro, noturno
Capitu e B.H