Eu, mulher

Nasci, cresci, amadureci.

Vivi e notei que sou parte errônea da camada;

Me fizeram reputar que preciso ser boa,

forte, elegante, retíssima — o tempo todo—

Enfrentar a vida e defender a prole como leoa.

Sentir? Que despautério!

Não temos tempo pra isso,

nossa incumbência é servir... Aos ideais beatérios,

Herdados num berço submisso:

— Lave o rosto, apague o vermelho dos lábios

Onde já se viu mulher bem vista sair assim?

Prenda o cabelo, não use saltos

Já fez o almoço? E a casa, asseou enfim?

O menino pranteando no quintal, não vai olhar?

O jornal, a gravata, os sapatos... meu café, onde está?

Anda, não faz nada.

Cansei, que mulher despreparada.

Não foi feita pra casar.

Por fim... Assimilei.

Fiz minhas malas e as correntes deixei.

Passei meu batom, soltei o cabelo e até mesmo sorri

Fui me encontrar, me conhecer, me permitir.

"Não era mulher pra casar"

Demorei, mas inferi.

Era mulher... Simples e inteiramente mulher.

Geograficamente esculpida, historicamente eloquente;

Poesia em cada sílaba, de todo verso decorrente.

Era vênus, saturno...

Era tudo que pudesse almejar

Era céu escuro, noturno

Capitu e B.H

Stefani Moreira
Enviado por Stefani Moreira em 08/10/2019
Reeditado em 08/10/2019
Código do texto: T6764148
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