Poema tardio

Este poema vem tarde

Mas há quem o aguarde

Como quem espera a chuva

Como quem deseja o frio p'ra vestir a luva

E a chuva não vem

E a luva não é vestida

Assim como não chega o trem

Atrasada a partida

Os abraços de despedida

São repetidos

Mas quem espera do lado de lá

Já tem o coração partido

Pela vinda que nunca vem

Cadê esse bendito trem?

Poema tardio

Duradouro estio

O sol que não se põe

O réu que não depõe

Justiça que tarda

Que o sol arda

Sobre a lerdeza

Queime a esperteza

Pessoas esperam a justiça

Enquanto não chega atiça

Nossa inquietação

O sol nos maltrata nesta estação

Pela vinda que nunca vem

Cadê esse bendito trem?

Este poema podia ter vindo antes

Mas ideia só veio agora

Quantas são as esperas inquietantes?

Tudo tem sua hora

E a pílula parece que não doura

A paciência estoura

É o recurso que não vem

O pedido que não vem

O perdão adiado

O julgamento atrasado

O relógio está parado?

Está tarde! O sol já arde

Sobre os que esperam pelo que nunca vem

Cadê esse bendito trem?

11/10/2019

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 11/10/2019
Reeditado em 11/10/2019
Código do texto: T6766925
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