Poema tardio
Este poema vem tarde
Mas há quem o aguarde
Como quem espera a chuva
Como quem deseja o frio p'ra vestir a luva
E a chuva não vem
E a luva não é vestida
Assim como não chega o trem
Atrasada a partida
Os abraços de despedida
São repetidos
Mas quem espera do lado de lá
Já tem o coração partido
Pela vinda que nunca vem
Cadê esse bendito trem?
Poema tardio
Duradouro estio
O sol que não se põe
O réu que não depõe
Justiça que tarda
Que o sol arda
Sobre a lerdeza
Queime a esperteza
Pessoas esperam a justiça
Enquanto não chega atiça
Nossa inquietação
O sol nos maltrata nesta estação
Pela vinda que nunca vem
Cadê esse bendito trem?
Este poema podia ter vindo antes
Mas ideia só veio agora
Quantas são as esperas inquietantes?
Tudo tem sua hora
E a pílula parece que não doura
A paciência estoura
É o recurso que não vem
O pedido que não vem
O perdão adiado
O julgamento atrasado
O relógio está parado?
Está tarde! O sol já arde
Sobre os que esperam pelo que nunca vem
Cadê esse bendito trem?
11/10/2019