RELICÁRIO
Aqui, dentro de meu peito,
guardo um pouco de tudo;
um grande todo;
minha forma, meu conteúdo,
minha alma, meu eu.
Aqui, donde eu broto e me aceito,
guardo sensações e desejos,
por vezes tumultuados,
que transbordam benfazejos
do meu corpo - um museu.
As memórias que guardo em mim
fervilham, evaporam, choram
ab imo pectore.
Deságuam em linhas que afloram
em meu espírito, minha silhueta.
Talho e cristalizo, por fim,
os mundos guardados em meu centro;
deixo-os me guiar,
conduzir a novas portas adentro
para libertar os sonhos da gaveta.