Ad astra
Nessas nossas conversinhas
De fim de tarde o cafézinho
Exala um éter ígneo envolto em
Sentimentos sublimes do norte que
condensam-se com massas de ar sulinas.
Meus dedos velejaram pelas cálidas
curvas de seu corpo, células volitivas
Suspiros voluptuosos enchiam o céu
de nosso microcosmo, cubículo
ínfimo que poderia conter todas as
historia da hélade
Mas você era carne, vento e tempestade
Eu, feito de livros, rutílico
Chama azul, fátua ardente
Projetei suas miragens com o calor
vital de minhas páginas
E teu Saara consumiu meu Sahel
Tua santa orquestra, gentis violinos
investindo sobre minha lira de
duas notas. Eu via teu arco subir
e descer com a fúria dos sucúmbus
Guepardo faminto perseguindo
um coelho em Nullabor
Enquanto meus dedos tácitos dedilhavam
um pérfido ruído, grave onda estúpida.
Contornava-te, abraçava-te, seguia
incólume para onde as musicas morrem
Mas não sem antes me olhar, rir o
riso ébrio dos loucos, dos coringas
dos que completam sua missão
e se banqueteiam em Vallhala.
Então, feito milagre de fim de noite
nossas frequências se igualaram
Gêmeas idênticas, imaculadas
Eu me ri, ingênuo, e o gênio
dizia-me - está tudo bem.
e estava. E não estava. E eu pude
ouvir a ressonância trincar o ar
Solapar minha realidade
Expurgar-me da letargia apaixonada.
Acordei com Schroedinger recintando
Nossos últimos versos.
E o último beijo que me deste
Guardei no canto mais lúgubre
de minha memoria, onde descansa
o proibido, o inominável
Mar de solidão eterna
Em que Caronte não se a atreve
a entrar, nem Anubis a pesar
...
...
...
E quanto mais eu corria, sem bússola
Mais você me dragava
Tempestade de areia
Sovatava minha pele
o chão fugia
e então eu trespassava Câncer
Caminhando no oceano branco
de ondas eólicas, mutantes
Matéria atômica de sílica
Grãozídeo ínfimos -
Apolo, que nunca me bajulara
Dava-me o sórdido olhar
dos caçadores, carícias flagélicas
Nublavam-me os olhos
e quando se foi, afastando a
Carruagem dourada dos
cavalos alados - anjos
Coyolxauhqui sentou-se
Em seu trono prateado
Apontando com dedos ossudos
o caminho para o seu coração
Vi-te entre as palmeiras
Oasis putrefato, lagoa de enxofre
labareda bubônica, sarça grega
e vagalume que sou, entrei
até o pescoço, toquei seu
Coração sulfídrico, raquítico
Ofídico. Gemi, esfacelei
Balbuciei as últimas forças
E descarrilhei
no túnel do
além.