INFÂNCIA.
Tu assemelhas ao dia,
vem clara como o verão,
depois escurece como
os braços solidão,
você é rio temporário ,
que nas cheias sacia a sede,
na estiagem abandona as margens,
você é um rito,
uma comunhão de sensações
além do imaginário,
você derrapa na estrada,
depois,
finge-se de coitada,
você entra nos olhares,
e por esta vereda
habita os corações,
você deflagra os sentimentos,
mesmo com as retinas apagadas,
é fogo que queima
as quimeras do passado.
Você é perna, mão e braços,
é a força de um abraço,
numa alma fustigada...
você remexe sutilmente,
nas gavetas do sentir,
você é templo sagrado
que não para de parir,
você é a voz do silêncio,
esse grito estampido,
que quando se acha chegando,
decerto está partindo,
você penetra as almas,
como linha no tecido,
beija com a mesma boca,
que antes a tinha comido,
você é bélica,
é monstruosamente angelica,
é uma erva tuberosa,
que nos versos e prosas,
deixa perfume no ar...
Mas você também é roseira,
que entre flores tão belas,
deixa escondida as espinheiras,
para protege-la do caos,
você agora e antes,
é vendaval que passou,
deixas as roupas desarrumadas
no varal do amor,
você é o tento da belisca,
que no jogo me escapou,
para que num dia distante,
meus olhos itinerantes,
da janela da ilusão,
te espere num sobrevoo,
chegando numa estação.
você é moça mais bela,
é tudo que fui perdendo,
você hoje é meu medo,
minha expectativa , minha ânsia,
nada mais , nada menos,
que minha dócil infância...