INFÂNCIA.

Tu assemelhas ao dia,

vem clara como o verão,

depois escurece como

os braços solidão,

você é rio temporário ,

que nas cheias sacia a sede,

na estiagem abandona as margens,

você é um rito,

uma comunhão de sensações

além do imaginário,

você derrapa na estrada,

depois,

finge-se de coitada,

você entra nos olhares,

e por esta vereda

habita os corações,

você deflagra os sentimentos,

mesmo com as retinas apagadas,

é fogo que queima

as quimeras do passado.

Você é perna, mão e braços,

é a força de um abraço,

numa alma fustigada...

você remexe sutilmente,

nas gavetas do sentir,

você é templo sagrado

que não para de parir,

você é a voz do silêncio,

esse grito estampido,

que quando se acha chegando,

decerto está partindo,

você penetra as almas,

como linha no tecido,

beija com a mesma boca,

que antes a tinha comido,

você é bélica,

é monstruosamente angelica,

é uma erva tuberosa,

que nos versos e prosas,

deixa perfume no ar...

Mas você também é roseira,

que entre flores tão belas,

deixa escondida as espinheiras,

para protege-la do caos,

você agora e antes,

é vendaval que passou,

deixas as roupas desarrumadas

no varal do amor,

você é o tento da belisca,

que no jogo me escapou,

para que num dia distante,

meus olhos itinerantes,

da janela da ilusão,

te espere num sobrevoo,

chegando numa estação.

você é moça mais bela,

é tudo que fui perdendo,

você hoje é meu medo,

minha expectativa , minha ânsia,

nada mais , nada menos,

que minha dócil infância...

Angelo Dias
Enviado por Angelo Dias em 19/10/2019
Reeditado em 20/10/2019
Código do texto: T6773575
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