alma extraviada
tive partes de mim
extraviadas junto com as malas
naquela maldita despedida,
vi a arte e enfim
entendi o que precisava,
quero tanto dormir
afim de fugir pela madrugada
enquanto pessoas sonham,
seus sonos leves como uma pena
talvez fruto de suas orações,
o pesadelo que pesa uma tonelada
persiste após acordado,
sentimento bruto como os corações,
quantas noites atordoadas
e as manhãs que não passam nunca,
o suor na sua nuca em minhas mãos ressecadas
me faz querer viver por um instante,
esquecer-me do antes e não pensar no futuro,
me perder em você na estante e mesmo com tudo
me sinto tão pouco,
o subir de um novo sol, curandeiro das feridas
o despir de um novo sou, onde dores se amenizam,
já que tudo que me resta é toda vida pela frente
farei dela uma festa e aceitarei o seu presente,
mente que me prende aos lamentos inúteis
trancado em mim mesmo, com os olhos vermelhos
dentro dos prazeres mais fúteis,
onde as músicas conversam comigo
é minha psicologa e eu sou seu paciente,
a solidão se faz sólida, tem um lado que omito,
a independência é uma tortura quando se é carente,
a nudez dos meus versos
me mostra de fato o lixo que sou,
a lucidez tem um preço
encarar no espelho meu eu que restou,
cansado de ser um bom moço
o âmbito onde se despeja o esgoto,
prefiro morrer em meu próprio desgosto
do que ser morto pelas palavras dos outros.