passando a limpo
não cometa o desperdício de me amar
estou a beira do precipício amor,
um cometa que passou pra me buscar
vou me indo pra bem longe de quem sou,
por lá os telefones não funcionam
e não existem caixas postais,
soltar-me, das grades que aprisionam
meus exércitos mentais,
minha cova foi cavada no braço
sem ajuda de ninguém,
as covinhas de um sorriso tão gostoso
q' vi nos braços de outro alguém,
se os traços de um poema sem valor
fazem de mim um poeta,
os dribles de um garoto descalço
fazem dele o maior dos atletas,
mais um chinelo arrebentado
e mais uma bermuda furada pela brasa,
mais um chilique q' teria aguentado
se não tivesse feito suas malas,
saudade de virar a cara pra você
e me fazer emputecido,
catástrofe q' me fez enlouquecer
o que teria acontecido?
caso a corda não arrebentasse tão cedo
em casa acordo querendo voltar pro meu sonho,
a verdade é cruel e dá medo
a casca cai sob a terra, dilacerado me exponho,
tire a minha mascara e enterrem
o que sobrar de meus trapos,
dores passadas, humano pra humano
ciclo da morte de tantos,
compartilhamos feridas em busca do curativo ideal,
por isso hoje me escrevo
passando a limpo as sujeiras pro papel.