passando a limpo

não cometa o desperdício de me amar

estou a beira do precipício amor,

um cometa que passou pra me buscar

vou me indo pra bem longe de quem sou,

por lá os telefones não funcionam

e não existem caixas postais,

soltar-me, das grades que aprisionam

meus exércitos mentais,

minha cova foi cavada no braço

sem ajuda de ninguém,

as covinhas de um sorriso tão gostoso

q' vi nos braços de outro alguém,

se os traços de um poema sem valor

fazem de mim um poeta,

os dribles de um garoto descalço

fazem dele o maior dos atletas,

mais um chinelo arrebentado

e mais uma bermuda furada pela brasa,

mais um chilique q' teria aguentado

se não tivesse feito suas malas,

saudade de virar a cara pra você

e me fazer emputecido,

catástrofe q' me fez enlouquecer

o que teria acontecido?

caso a corda não arrebentasse tão cedo

em casa acordo querendo voltar pro meu sonho,

a verdade é cruel e dá medo

a casca cai sob a terra, dilacerado me exponho,

tire a minha mascara e enterrem

o que sobrar de meus trapos,

dores passadas, humano pra humano

ciclo da morte de tantos,

compartilhamos feridas em busca do curativo ideal,

por isso hoje me escrevo

passando a limpo as sujeiras pro papel.

R Lelis
Enviado por R Lelis em 25/10/2019
Reeditado em 30/06/2021
Código do texto: T6779171
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