Canto Estático

Desnudada a flauta suméria,

A boca do cão e os pés do tsar;

Destrinchada a flor e a seda e a saliva

De todo amante. Transbordada a taça,

a do vinho ou a da missa,

Não há, em coisa alguma, o que procuras.

E se esqueces o domingo da missa, ela continua.

Retira do amante o vinho e o amor

E despeja ao mar o teu filho. E observa.

O Sol não te notará no ápice do teu horror,

Tampouco o velho no zênite da própria morte ou

Alexandre enfermo do ouro sírio.

O que procuras é o cheiro da fruta que amarga no jarro,

O sino no pescoço do bicho e a voz da amante.

O batente da porta que substituiu o abraço da mãe,

O tempo que te tomou a fala e a simpatia.

Vês, então, a mulher que escreve da tua solidão;

E o homem que escreve aos pássaros e à mulher.

E no poema encontras tudo o que não congela,

Tudo o que não te prende e tudo o que já morreu.