GRUTA
GRUTA
Eles se mostram perfeitos
como se saíssem de um livro de regras
coram ao errar,
frio na barriga,
escondem o erro
põem-se a chorar
ou acusar
põem a culpa no outro,
na parede ou no gato
fazem qualquer coisa
pra não assumir
o erro de fato
E se são assim
tão certos
então ninguém por certo
lhes merecem
e ainda que merecessem
ai que vexame
se as máscaras da perfeição
no meio do palco da vida
desaparecessem
E assim, vão
os falsos vínculos humanos
vivendo de inventadas e solitárias perfeições
Esquecem-se os senhores inventores
que são as imperfeições que criam
reais conexões
É que
quando conto que estou sofrendo
nasce o remendo
O outro desce do salto
mostra que também sofre
segura-me na mão
e vamos os dois
para o alto
Se finjo que sou perfeita,
que não erro e não me desespero
Não digo quem eu sou
só o que quero
e com tanta mentira
como se pode achar alguém sincero?
Se finjo que sou perfeita
para não ser chamada de boba
quem me ouve
,também quer ser perfeito
e juntos,em manada
edificamos uma bobagem viva e infinita
Irrita
Se não gosto do meu eu
e não o apresento em público,
escondo-me no que todo mundo é,
visto o que todo mundo veste,
alcanço o que dizem ser sucesso
e de verdade
a mim,
nunca dou acesso
Sirvo em bandeja de vento
a casca da fruta
e o miolo não confesso
enterro com lágrimas na gruta.