O poeta traduzido
todo poeta conhece a dor do fingimento
faz das palavras o céu livre momento
samba e canta com tinta e vento
escrever palavras além do tempo
faz e refaz da musa um firmamento
o poeta sabe que é demasiado humano
rir parado na esquina com semblante sereno
dentro de si um rio desagua
na face posterga as musas mitológicas
vive além-infinito e eternamente
o poeta é contemplação de primaveras
embriaga-se no atemporal
expõe suas feridas calejadas do “eu”
suga do verbo sua morada eternizada
dança conforme a própria música
sim, o poeta é brilho certeiro e ligeiro
aos olhos da musa um cancioneiro
em palavras reclusas arde por inteiro
queima de fato verdades infindáveis
consome-se em brasas divagando saudades
sim, o poeta é um fugitivo da lua
astronauta além das constelações
vive um rascunho em punho cortante
todo poeta é a esperança interminável
um ato com o lápis, sentenças e vigas.