Paternidade

Ele vem.

E senta-se ao meu lado.

E não diz uma única palavra sequer.

Olhos perdidos em seu próprio celular,

talvez tentando encontrar um rumo

ou se perder em outro.

Talvez tentasse me olhar pelo reflexo;

meus olhos perdidos na página do livro.

Talvez quisesse que eu começasse

um diálogo comum,

desses que não acrescentam nem

se fazem perder.

Mas não.

Ele vem, mas não fica.

Levanta e vai embora.

Olhos perdidos em seu próprio celular,

traçando caminhos desconexos

ou desconectando aquilo que é concreto.

Talvez quisesse que esse momento

durasse mais alguns segundos

ou quem sabe anos.

Talvez quisesse que eu deixasse o livro ao lado

pendendo no braço desnudo

e sorrisse diante do reflexo:

oi, pai.

Que bom que você veio.