MEMÓRIAS DA INFÂNCIA.

Luizinho era meu amigo,

continua sendo,

a morte é apenas outra

estação.

Era um menino estrambótico,

gostava de inventos,

certa vez , me disse,

que havia demorado,

porque no caminho teve

necessidades,

depois abriu o bolso da camisa

para me presentear,

não deu, o canto da Seriema

havia lhe escapado do bolso.

Luizinho teve decepção,

coitado, pensei, canto não

se prende, canto escuta-se.

Até que tentou justificar,

mas a manhã não estava

para invenção.

Meu avô disse que canto

de Seriema é despossuído

de matéria,

e que só as mão da alma

pode pegar.

Luizinho contestou,

tudo que existe é passivo

de cativeiro,

o canto existe, e tem dono.

Meu avô , apenas sorriu.

Luizinho ficou sisudo,

foi ao quintal,

voltou molhado de orvalho,

disse que acabará de colocar

lágrimas nas coisas invisíveis,

e se deu mal,

minha vó acabou raiando,

as coisas de Deus são palpáveis.

Tudo que não se vê

e não se pega pertence

ao demo.

Luizinho cresceu,

desligue o rádio , que o demo

ta solto.

Vovó não entendeu

a metáfora.

Luizinho cresceu tentando

enganar a vida,

e morreu enganado.

Morreu no bico do litro.

Tentou amar Lucineia,

não deu, a moça era noite

fechada,

era terra que pobre não punha

os pés,

sofreu como um louco,

por não ter seu amor.

Seus ensaios guardo na memória,

seu sofrimento também,

era um menino que queria

ir além,

Lucineia morreu solitária,

não amou ninguém,

Luizinho morreu de barriga d'água,

eu continuo enganando a vida.

Angelo Dias
Enviado por Angelo Dias em 26/01/2020
Reeditado em 29/01/2020
Código do texto: T6850799
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