DESPARAFUSANDO

Sou poeta

pois consigo enganar o suor das estrelas,

as texturas do medo,

o vai e vem da saudade.

Sou poeta

pois acaricio as nervuras do querer-bem,

as ferrugens da ternura,

o requebrar enlouquecido do amor.

Sou poeta

pois me refaço na inquietude do desejo,

na embriaguez confusa da dúvida,

no salpicar assustado da certeza.

Poderia até dizer que sou poeta

pois desafio a morte da verdade tingida,

pois sacudo varandas sem acordar a dor,

pois me desparafuso sem esfriar minha fé.

Por tudo isso me faço poeta descarado, desnudo,

pronto pra desfolhar os palcos da vida

pronto para parir os passos roucos,

pronto pra servir as querelas do talvez,

pronto pra cumprir o legado sem razão,

pronto pra amar almas que untarem por aqui.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 09/02/2020
Reeditado em 09/02/2020
Código do texto: T6861745
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