(para meu amigo João)

Que histórias contam esses olhos?

Quantas nuvens por trás desses olhos fundos?

Nos traços graves dessa expressão contida,

quantas marcas, quantos mundos!

Que palavras teus lábios escondem?

Como a garganta as pode suportar?

Como borboletas no casulo exiladas,

querem luz, querem voar.

O coração em seu peito clama.

O que é que ele deseja, João?

O que você quer que seja?

Que sonhos entre as mãos esperam

como um rio represado?

Que esperanças sobreviveram

aos escombros do passado?

As pupilas dos seus olhos

vertem risos, vertem dores.

Que escuridão sem nome

desbotou as suas cores?

A que o dia te convida?

O que a noite te devolve, João?

O que é que te move?