Dueto do eterno amor

Nos vórtices do tempo,

inconsciente do todo, no escuro,

alguém de quem não me lembro

constantemente procuro.

Espero-te, amada minha,

até que das brumas retornes.

Dessa senda onde caminhas,

embora te chame, não me ouves.

Ressinto-me da rejeição

a que o mundo me relega.

Onde um porto para o coração

e braços para minha entrega?

Não te lembras quanto és amada?

Anjo meu, quanto me aflijo!

Vejo-te louca, angustiada,

e, incessante, a ti me dirijo.

Cada rosto é uma esperança

frustrada em breve momento.

No descompasso dessa dança,

demora-se meu sofrimento.

É flecha que me atinge o coração

cada lágrima que tu choras.

E desejo afastar-te da ilusão

dessa busca em que te demoras.

Sei que existes, oh, amado,

meu coração o sente.

Mas trago o olhar turvado

e confusa minha mente.

Abraço-te na solitude

do teu quarto, noite adentro.

Mas, na tua inquietude,

não percebes meu achegamento.

Até quando essa triste espera,

essa aflitiva incerteza?

Será tão somente quimera

ou será vaga certeza?

Quanto almejo que chegue o dia

de nosso terno reencontro.

Ansioso por essa alegria,

dias, horas, minutos conto.

Oh, amado, venha logo,

não retardes minha ventura!

Que a Deus toda noite rogo

por essa afeição tão pura.

Mas, amada, a divina bondade

dissipará toda a nossa dor

e nosso lar será a felicidade

alicerçada no eterno amor.