Esse Portugal que vem com o Outono
Essa casa amarelecida, hospedeira de palavras
Autênticas: colorau, aluvião,
simpatia ou festança.
Esse Portugal que vem com o Outono,
Essa praia de mantas de pêlo branco,
Uvas e vindimas de sacríficios.
Desse vinho que cai das faces solidário
Ou brutal como um trombose de bonomia.
Esse Portugal que vem segredando árvore e céu,
Que me faz o olhar como uma janela em vitral.
Esse, vem agora de botins, preparando o Inverno,
O meu e o dos meus compatriotas dos cinquentas,
Fazendo da sementeira um provérbio, qualquer coisa
Como “pouco e pouco nem sempre é muito”
Este Portugal que nos deixa água na boca,
Um pátio, pouco mais que um quintal, um amigo
Num quintal, Portugal mesmo só sempre amizade,
Talvez pelo sol macio ou sombra pouco oblíqua
Que nos ajuda a vertical.
Vem Portugal por esse Outono, por entre os pára-brisas,
Descascado em romãs, mesmo sem mãe, país macho,
Onde é possível regar dinheiro com palavras,
Mesmo com os filhos da puta dos capitalistas,
Que esses são apenas gente do império,
não precisam de Camões
Nem Gil Vicente, nem dos corações.
Este espaço, este silêncio, este segredo, este jantar de carinho,
Foi-me ensinado, às vezes chamavam-lhe vida outra vezes grande nação,
Mas eu sou pela palavra original, sou pelo sentimento sinónimo, lá na memória,
Aqui por entre as folhas castanhas,
portugal.