5h38 (tangerina)

Há sobre a aurora uma garoa teimosa...

Molha o raio de todo o orvalho que brota

do bebê do dia onde o rosa sem demora

sumiu do amarelo do contorno da encosta.

Pode o poema se tudo é uma saudade agora?

Fazer o que se o meu verso voou e foi embora?

Estou muito cheio desse vazio oco que implora

a tangerina do seu beijo e os degraus do seu pódio.

Projeto nas paredes as imagens que assolam

a sua falta. Ouço aqueles ais dos ecos da copa.

Sinto o dulçor do perfume do amor do seu colo.

Puxo risos altos dos pés sob pés da nossa história.

No meio da manhã e entre os lamentos da memória,

não há nas dez e dezenove nem uma garoa teimosa.