TRANSEUNTE

Subo na grua dos minutos e cheiro as horas de cima,

onde o ar rarefeito tropeça na nuvem quase neblina.

Sou dos entretantos e de tudo o que pode ser ainda:

o ocre transeunte no azul de metileno da noite nítida.

Vejo as armadilhas do poema. E o poder de sua isca.

Leio muitos poetas da rede reunidos na parte de cima

da minha tela sombria. Parece-me mil vozes parecidas

a fim da grande curtida e de todo o ouro de tolo da poesia.

Atravesso esse março no instante imprevisível de um susto.

Meu verso come da calçada. É um cão sem raça e sem rumo.