Poema 0179 - Quando for ébrio

A noite baixa sua sombra sobre a cidade fria,

os calores estão em todos os outros corpos,

caminho entre meu inverno e o inferno da solidão,

meu silêncio são palavras que ecoam pelas ruas,

alguns ouvem mas muitos gritam ao mesmo tempo.

Caminho entre pessoas que me fazem invisível,

sinto que não tenho rosto, não tenho cheiro,

regresso sozinho aos meus esconderijos,

restos de imagens que deixaram na lembrança,

são pequenas luzes que piscam em néons coloridos.

Esqueci todos os nomes das minhas amadas,

talvez tenham me jogado fora muito antes,

das bocas nenhum som, dos olhos uma lágrima,

uma apenas, é tudo que me deram direito de chorar,

golpearam o meu corpo até levarem minh'alma.

Tentarei mais uma vez escrever meus sonhos,

talvez em algum pedaço da lua, esta noite minguante,

não a lua, meus desejos, estão ínfimos a cada dia,

quero um céu aberto para que faça um pedido,

um desejo, quem sabe um vôo para o meu futuro.

Sigo um caminho de flores sem nenhum perfume,

flechas de fogo iluminam indicando as direções,

ainda sinto minha sombra crivada de nãos,

algumas vezes a noite é amiga, outras inimiga,

hoje estou especialmente triste, a solidão é mais forte.

Amanhã tentarei ser um ébrio, beberei minhas desculpas,

deixarei cair minhas vontades em um grande vazio,

depois irei à procura de um abismo sem fundo,

jogarei meu passado amarrado às minhas lembranças,

quando amanhecer serei amor... de um outro amor.

21/03/2005

Caio Lucas
Enviado por Caio Lucas em 17/03/2005
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