NOVELOS
Se um dia eu soubesse de mim mesmo,
não sei se me saberia todo e por inteiro,
pois de biombos e espelhos é que sou feito,
na dobradiça embutida e sutil do movimento
transeunte no meio do esquerdo e do direito
— no cérebro cinzento de dentro para dentro.
Assim como o meu verso me desloco em silêncio,
já que do vírus do poema sou um dos hospedeiros.
O poeta se acostumou a ficar perdido no nevoeiro
e precisa de estar em pedaços para se sentir coeso.
E se um dia eu me encontrasse em mim mesmo,
nada veria: estou nos nós cegos dos meus novelos
(entre o bordado do fim e a agulha de um começo).