COLATERAL

COLATERAL

Levanto os olhos por entre a nuvem de chumbo esverdeada

dessa segunda. Ou quarta. Foi enquanto de você eu jejuava

que o camurça brilhante do meio-dia aparecia na madrugada

e a noite roxa ficava acesa das horas. Do ar. Da encruzilhada

sem alguidar e sem cachaça. Foi enquanto de você eu jejuava

que a aurora nascia de um zumbido de estrelas sem galáxias,

de uma risada ao contrário no refluxo oco de inúmeros nadas

e de poemas mal disfarçados. Foi enquanto de você eu jejuava

que os sonos dormiam acordados e o meu berro reverberava

na acústica branca da privada — nos dias que a alma anulava

e que em mim mesmo mil vezes ressuscitava. A vida voltava

e logo partia nesse looping bizarro da sua imagem apagada.

Era eu mais o seu fantasma. Foi enquanto de você eu jejuava.