ANTIDIÁRIOS DE ABRIL VIII

VIII

Às cinco reparo na aurora fluida no vidro da ampulheta

da passarela iluminada da fresta de onde desfila ligeira,

num pé de paleta, nessa manhãzinha nova e traiçoeira

que apaga a ruína da madrugada e o seu bordô violeta

na nuvem de telha das seis que às oito já está cinzenta.

Percorro o muito pouco da rede de fogo no meu quarto.

Ouço o gemido doído sob o som deste silêncio metálico

e das luzes super-roxas dos celulares delgados das salas.

O vírus ressignifica o meu verso dentro da noite azulada

e tudo em mim se distrai feito um veneno que não mata.

— Sou da urgência do poema. E das horas ultrapassadas.