FOME DE SONHAR

Estamos cansados de canções de ninar

Há um tempo em que perdemos o medo

E o velho bicho-papão já nos soa ridículo

Quando nossos pés estão fincados no chão

Nossa fome de sonhar sofre de ausência

Mas por que o sonho se tornou esta heresia?

Se ele ainda é a janela do mundo

É chegada a hora em que o sonho transborda

Pela beirada de nossa existência

E a sanha da vida gesta espadas

É chegada a hora em que melodias

Atiçam o verbo do tempo

E nem o pão já nos adormece

Porque nossos ossos ardem de verdade

Sim, é chegada a hora em que o sonho

É um ato de resistência

E não basta um braço forte

Para alcançar a igualdade

É preciso romper as fronteiras

Que nos divisam de nós

É preciso que o sonho seja aquela flor

Que um dia furou o asfalto.