TEMPO DO MEDO

É o tempo que nos agarramos ao medo

O tempo em que as sombras

Devoram os homens

O tempo em que o horror

Engendra novos fantasmas

E não vale mais o esquecimento

Tempo em que a morte

Cicatriza as fantasias possíveis

E os sonhos são apenas vozes

Tempo em que o medo soa até fraterno

Pois nos acostumamos a temê-lo

Tamanho o encanto de nossa covardia.

É o tempo em que nos aliamos ao medo

Tempo em que tememos o contágio

E acabamos por temer a cura

É o tempo do medo que nos penetra

O medo que salta nossos muros

O medo que espreita nossa escuridão

O medo que invade nossos quintais

Todo esse medo familiar e profundo

Que preenche nossos abismos

É o tempo em que tememos a noite

Por que com ela vem o silêncio

É o tempo de temermos o próprio medo.