ANTIDIÁRIOS DE ABRIL XI

XI

Dentro de mim mora um anjo

Cacaso e Sueli Costa

Pressinto a lavanda espalhada nesta manhã cinza e confinada

nos intestinos do vírus que surgiu da nossa própria desgraça.

O poeta é uma barcaça solta no oceano permissivo da palavra

que serve a qualquer empreitada. Meço este frio que dispara

a saudade do sorriso farto da sua cara e do abraço estampado

— entre as mãos que vazavam pelos ossos das suas escápulas.

Sobre você o mundo prosperava e o tempo era só um detalhe

no sal das horas em brasas; e o seu grito parecia com o canto

metálico das águas — feito se de ais a vida fosse ressuscitada.

Acordei na angústia da febre ao redor do espaço que abranjo

— estou na sanca da sala. Dentro de mim não mora um anjo.