A GRANDE ARTE

em memória de Rubem Fonseca

A noite é escura e a brutalidade imediata

E seguimos disfarçando nossas inseguranças

Com um cinismo quase sedutor

Muitos mistérios nunca irão se resolver

Crimes de sangue e silêncio

Como desvendá-los?

Nossa linhagem não conheceu de estéticas

Temos um desejo de vingança quase obscuro

Mas continuamos a perguntar pelos culpados

Os assassinos hoje cultivam rosas

Como encontrá-los?

A cidade é sombria e o medo desfila

No seu altar de morte e dinheiro

Cultivamos heróis de cinema

Porque é mais fácil a justiça

Em enredos maniqueístas

Na vida a sobrevivência já é um risco

E a única ideologia real é o estômago

Apesar disso vamos rompendo

Algumas antigas convenções

Enquanto nossos sonhos são maus

E nossos dedos endurecem

Caminhamos lentamente

Sem perceber que é tarde

Mas em matéria de obra

Ainda somos a grande arte.