Porto Seguro

Acenda sua luz,

mostre-me onde está,

para que eu retorne.

andava no escuro

as onda rugiam tentando ferir as rochas

a lua alta prateava o caminho

o vento salino excitava seus cabelos

quando o frio lhe lambeu a espinha

abriu a porta de madeira

num grunhido amarelado de tempo

conseguiu acender a velha tocha

à sua mão desde os princípios das eras

subiu lentamente as escadas espiraladas

p a s s o a p a s s o

os degraus estalavam

como se contassem os invernos fantasmas

já no topo estendeu o braço

o cheiro da banha imunda empapava o ar

pelas entrelinhas Éolo assoviava

uma canção ancestral

quando tudo fez-se luz

tudo dissipou-se

o farol rodava lento

com anciã dificuldade

sua luz fosca tocava a pele das águas

ondulando seu véu lunargênteo

ela olhava

imóvel

o viés do mar

e esperava

quando pequenas luzes doiras

lentas-longínquas

vagalumeando a madrugada

acenderam o tecido líquido

u m a a u m a

era fanal

era porto

norte

dalva

destino

acolhida

fim

Foi só então que percebeu

o Poder

da sua própria chama.

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Poema de minha autoria publicado na Antologia Poesia Agora: Primavera 2019.

página 79

ISBN 978-65-990436-0-4