carta para minha desgraça

foi-se, tempo esgotado!

submergir é fácil,

hoje vejo-me fundo, (onde tudo é escasso e sou invisível)

não percam seu tempo

demonstrando-me sentimentos,

um monstro me tornei, incapaz de senti-los,

foice, amolada, enterra-me com amor

submeter-se a mediocridade de sua própria existência,

amanhã beijo quem espera-me longe (onde tudo é claro e visível)

enxergar-se como um grão de areia

neste deserto, as tais grandes cidades,

esfrega esse chão do grã-fino ...

cidadãos presos em grades,

só mais um pino,

vejo morte no espelho

em quanto meu coração bate ...

respiro, sangue corre em minhas veias.

matei todos que me amam,

estrago a sorte de mim mesmo ...

tragos após tragos, lhes trago desgosto.

foi-se, meu tempo esgotou amor!

continuem, comam, caguem e morram (viver é previsível)

chamem está merda de felicidade,

apaixonei-me loucamente

pela insignificância, (morrer é indescritível)

cada letra catada no chiqueiro

cujo chamo de mente,

cara limpa, fiz a barba, contei meu dinheiro

pus a melhor roupa, um bom perfume

para estourar meus miolos diante do espelho.

R Lelis
Enviado por R Lelis em 17/04/2020
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