PORÇÃO DE ALEGRIA

Não beberei no instante

a febre de uma espera

Busco tecer no tempo uma caligrafia

Porque a alegria é o sêmen da existência

É o que faz cicatrizar nossos pretéritos

Mas seguimos cansados com o peso

dos corpos em nossas almas

no anseio imaturo de absolutos

procurando em todos os cantos

aquele final falso e clichê

em que todos são felizes para sempre

Fomos adestrados na mentira

Por isso os consultórios estão repletos

e os corações vazios

É inadiável entendermos dessas satisfações

Que nos serão servidas

Ao longo da vida

de forma fracionada

Em porções absolutamente

desiguais.