ANTIDIÁRIOS DE ABRIL XXIV

E enquanto não fui poeta eu não haveria de ser coisa alguma,

já que a única tarefa que entrego é a de desenhar a estrutura

desses meus poemas voláteis e que vão e vêm e voltam à rua,

onde nada é seu de verdade — é da vida que passa e continua.

Fui tantos e vários e abaixo da crítica e acima da temperatura,

enquanto não notei o verso tudo em mim tinha uma moldura — a de um escultor esculpido por dentro da própria escultura,

no bronze dos porquês e das mentiras diurnamente noturnas.

E escrever é o confronto entre o arquivo nu e sem arquitetura

— e o esqueleto que treme e roça no magenta da musculatura.

Hoje eu sei que ser um poeta é quase não ser coisa nenhuma.