Socratianas
Nesta caverna de mundo eu não posso dizer que sei tudo.
Mas continuo sabendo onde é e onde dói meu calcanhar.
Nada, nada, nada, ainda sou essa matéria e esse doer.
E eu posso querer ser assim, ninguém se toca com isso.
Há o existir emudecido, porque é vero meu parco saber.
Na parede da minha caverna pintam-se várias ilusões.
Sabe o homem o quanto diminuiu? Quanto minguou?
Sabe a mulher o quanto se desfez? Quando se perdeu?
Se soubessem essas coisas de si, o mundo mudaria?
Há o gritar rouco do sentido: oquiéquihá? Quem ele é?
Dos acorrentados da caverna um se liberta e alerta:
O chão enganoso das vistas é o mesmo da audição...
Como aceitar a verdade crua rasgando o nosso osso?
Como aquietar esse punhal, faísca, luz, puro clarão?
Há o entender que descaminha, mata esse adivinhão.
Foi sempre assim nesta nossa caverna. Sabe que é!
Preferimos a miragem à coisa mesma. Autoenganos...
Não suportaríamos a luz como agulha furando pupilas,
Nem o entendimento mudando conceitos e toda sina...
Há o viver e não é a vida que é. É ilusão e não termina.