QUASE SEM QUERER — O POEMA
Quase sem querer foi o modo de que sempre fechei as portas
para mim mesmo por onde eu passava. E descerzia as bordas
e os segredos; retirava as dobradiças. E criei, pois, esta órbita
de mil biombos, feito as faixas das avenidas que transbordam
na sala, na copa e entre os cômodos de uma mente diabólica.
Estou inquieto. Quieto nos cantos. Disparo olhares aleatórios
através dos ângulos camuflados da casa e assim caço as horas
durante a música do tédio e enquanto o nada rodeia os ossos.
Infundo os aromas do dia e sorvo o tereré desta manhã clara.
— E reparo que escrever um poema é tirar a roupa da palavra.