10h15

10h15

(sob alfazemas)

E sempre escrevi o mesmo poema…

Em vozes diferentes e em esquemas

dissidentes. Não raro muita emenda

atrás da outra — um filme sem cena.

No meio da manhã sinto a alfazema

imensa deste vendaval e das nuvens

que colorem os raios da cor que surge

entre os pastéis e o fundo da ferrugem.

Às onze e um os clarins da tarde executam

as exéquias do que foi orvalhada e chuva;

chilros e minuanos — e criador e criatura.

Onze e quarenta e está pronta a sepultura

rasa e sem mármore da fome desta tortura

de cheirar o futuro antes da própria fissura.