Partida de mim.

Eu preciso dos seus olhos e não sei onde estão. Agora.

Será que olham nos meus dentro de uma distante paisagem

Ou choram em outros olhos, vazios de suas vontades?

Perdi o rumo de nossas certezas, meu coração parece menino,

Criança solitária a buscar um colo, afagos, seus sorrisos.

Minha pele resseca sem os seus toques e minhas mãos envelhecem

A ternura de uma paixão perdida em amor,

Afinidades propiciam dores e não sei mais sorrir.

__ Ele trancou a porta. Louco, enlouquece.

Flores morrem, pálidas, entregues ao jarro,

E uma nova primavera causa medo, convida.

Cabelos sujos, uma xícara de café, olhos mal dormidos,

O tempo triste e essa canção, modo repeat.

Segundos sobre a mesa, sonho sua presença, ele.

Cena de final de filme, ele fala e meu peito espera

A palavra a nos abraçar. Só tenho a sua voz, macia – minha!

Meu corpo pede um seu beijo, minha boca entreaberta,

Minha carne viva, minha saliva quente...

Ele enfeita minha vida com a voz, minhas veias sentem, dentro.

Pulso brotação, ele encerra seu discurso:

__ Ama muito e não ama (me)!

Acordo. Morta.

Expulso sentimentos como quem encara a solidão,

Amiga de grade, companheira de cama.

Lavo os olhos... Molho a toalha... Deságuo.

__ Ele partiu.

Quais cores são possíveis enxergar quando morre a esperança?

Em sonhos ainda o vejo a acompanhar o meu funeral.

Já não existo; parti.

Eliane Alcântara
Enviado por Eliane Alcântara em 10/11/2005
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