Canto dos remorsos

Canto dos remorsos

Adiante de mim correm as lonjuras...

Entreabrem-se os silêncios, sem se descrever.

Sopram as poeiras formando as misturas

E os bois ruminam, nesse entardecer.

Pelas soltas do vento se alastram odores

E o nascer do sangue e das águas escuras.

Das lágrimas e das espumas sem cores

Dolceamargo canto da infeliz ventura.

Os carneiros pelas soltas a balir,

entre as ramas do mais branco algodão

Ignóbeis montes, lividos, quase a sumir.

No olhar da minha própria solidão.

Enquanto torno e entorno faceiro

Estou de partida e não me parto.

São ervas tenras no perfume ligeiro...

Encouraçando esse duro bardo.

Filha das montanhas, lavradas em meu canto.

Flor das pedras a crescer esparramadas...

Sopro de nuvens tangendo o encanto.

Trazendo remorsos por essas estradas.

Francisco Cavalcante