Não devia, mas queria

Queria que doesse em você,

como dói em mim

Queria que ficasse diante do abismo,

aquele que você deixou.

E partiu.

Queria te contar.

Da vida que anda dura.

Da escassez de afeto.

Do tombo que levei.

Dos meus novos escapismos.

Queria te mostrar as fotos

do ensaio sensual que fiz

E da delícia que foi me enxergar nelas.

Os textos que escrevi pra você

Como quem retira palavras das entranhas.

Queria te ouvir dizer,

com brilho nos olhos

Do que te encanta.

Daquilo que ama.

Do impulso que te faz viver.

Queria te tocar.

Percorrer teu corpo-universo.

E mapear como ele reagiria ao meu toque.

Queria um segundo do teu abraço.

E poder me desarmar.

Só deixar acontecer.

Queria te ver de camiseta cinza.

Jogado no sofá da sala.

Com uma taça de vinho na mão.

Sem medo de ser.

Queria contemplar o teu gozo

Seguido do seu riso frouxo

Que é coisa linda de se ver

Queria ao menos sua amizade

Pra compartilhar a vida boa com você.

Queria que soubesse,

o quanto é disfuncional.

Eu ainda te querer.

Quanto a isso,

não tenho muito a dizer.

Eu queria, mas ouço ecoar:

"Não ficaram arestas, Mari."

Frase que estampei no papel de parede do meu celular.

Pra não esquecer.

Pra saber do que você quer.

E no fundo, eu sei.

Só preciso escrever

Do que sinto

Do que quero

Pra tentar me ter de volta outra vez.

E sentir ameno.

Sentir tranquilo.

Não devia,

mas confesso que queria.

Mariany Mendes
Enviado por Mariany Mendes em 24/05/2020
Reeditado em 24/05/2020
Código do texto: T6957090
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