PROCURA-SE

Perdi-me numa rua qualquer

Desgraçado de poesia

Fui ao encontro de amanhãs

Espreitando antigas novidades

O tempo era uma geografia

Minhas pegadas grudaram

No ventre das palavras

Queria saber quem era

Esse tal “eu” que morre

Enquanto respira aliviado

Esse “eu” que pousa

Em minha fisionomia

Que excreta ácidos biliares

E abriga trilhões de bactérias

Que assiste aos mesmos filmes

E hasteia fúteis vaidades

Perdi-me numa rua qualquer

Em que nenhum mapa supõe

Mas que está em todo lugar

Perdi-me nesse “eu” que sonha

Nessa singularidade banal

Tão doce e servil

Que se apaga inconsciente

Perdi-me em milhões de “eus”