Fugindo do poeta e da poesia que há

Fugindo do Poeta e da poesia que há

São agora dois olhos e uma boca em silêncio...

Depois uma criança que respira a fuligem das fábricas.

Demônio alado que perdeu seu coração!

Poeta de malogro.

Tenho navios encalhados aos meus pés

Barcos de papéis!

Couve-flor

Origami

Nos córregos do esgoto!

Fujo apressado

O peito pulsa afoito

Lembro a canção do solitário!

Na mesa cadeiras vazias

Um copo de leite suado...

Seria um poema?

Não sei dizer-te!

Só as gaivotas é que são poemas!...

Voando além dos condomínios amurados

Acima dos carcomidos navios que a ferrugem degusta.

Vejo na solidão...

Os extensos dormentes de aço!

Com o meu olhar que treme no vagão

do trem que some no planalto.

Vultos que se vão com as paisagens de verão.

Lampiões pelas ruas escuras

Rios calados!

Já é noite!

Mesmo no interior das luzes

Dentro da nebulosa.

Francisco Cavalcante