Palavras soltas

LXIII

Estas palavras soltas

não são nada como o teu poema

esboços encostados á margem

iguais a cem que já fiz.

Estas palavras vivas

é um homem sem rosto

á espera de ser salvo

esperando pelas suas asas.

Estas palavras morfologicas

baralham os cromossomas

abriram mais um pouco o ozono

mas são suspiros sem volume.

Estas palavras molhadas

não cheiram a acetona

mas corroem as linhas de papel impresso

como água em rimel fresco.

Estas palavras expirradas

são fios desfeitos sem sequência,

não são tudo o que parece

e são apenas o que parece ser.

Estas palavras raras

não são nada como o teu poema

nada como o que escreves

são apenas tentativas frustradas.

Estas palavras não rimam

nem condizem com o teu vestido

são apenas gotas de tinta suadas

no nervoso da tua presença.

Estas palavras não sou eu

nem tão pouco, o tudo que sinto

são apenas o que são: tentativas

e não podem deixar de o ser assim.

miguel lopes

miguel lopes
Enviado por miguel lopes em 10/11/2005
Reeditado em 29/12/2006
Código do texto: T69602