Palavras soltas
LXIII
Estas palavras soltas
não são nada como o teu poema
esboços encostados á margem
iguais a cem que já fiz.
Estas palavras vivas
é um homem sem rosto
á espera de ser salvo
esperando pelas suas asas.
Estas palavras morfologicas
baralham os cromossomas
abriram mais um pouco o ozono
mas são suspiros sem volume.
Estas palavras molhadas
não cheiram a acetona
mas corroem as linhas de papel impresso
como água em rimel fresco.
Estas palavras expirradas
são fios desfeitos sem sequência,
não são tudo o que parece
e são apenas o que parece ser.
Estas palavras raras
não são nada como o teu poema
nada como o que escreves
são apenas tentativas frustradas.
Estas palavras não rimam
nem condizem com o teu vestido
são apenas gotas de tinta suadas
no nervoso da tua presença.
Estas palavras não sou eu
nem tão pouco, o tudo que sinto
são apenas o que são: tentativas
e não podem deixar de o ser assim.
miguel lopes