ESTUPIDEZ

era sexta-feira a noite. as pessoas bebiam pelas ruas e fumavam seus cigarros.

havia desespero em todos os cantos. corações amados e os abandonados também.

não havia estrela no céu e fazia frio. realmente a noite estava vazia.

era um longo caminho de volta, mas de volta para onde?

caminhei pelos trilhos. nem sinal do trem.

continuei.

andei até um campo.

um campo vazio,

sem flores e sem gramado.

como aquele campo vazio

assim estava meu coração.

desolado pela miséria dos outros.

dos que se foram e deixaram suas marcas.

tudo que eu tinha recebido na minha vida foram restos. restos de uma amizade

restos de carinho e sobras de amor.

peguei meu copo de whisky e me servi uma dose de Dalmore. junto coloquei um pouco de café.

o amor anda quieto demais. o que está acontecendo com os amantes?

as mãos não se encontram mais e os beijos são curtos.

há um vazio entre os corpos. há dor no espaço vago de dois corações.

me servi de outra dose. dessa vez com mais café.

ainda caminhava no campo vazio. a caminhada era longa e meus pés começaram a doer.

vi que ainda tinha metade da garrafa de whisky. não estava tão azarado assim.

todo poeta é meio louco. orras, por que pensei que quando encontrasse com ela a veria sorrir. mas ao invés de sorrir ela chorou.

chorou até soluçar. eu disse o quanto havia andado pra chegar até ela. meus pés doíam e eu realmente estava bêbado demais para conseguir entender qualquer palavra.

só sei que sofria.

apaguei. quando acordei ela já tinha ido. levou minha garrafa de whisky. agora sim eu estava sem amor, sem sorte e sem bebida. seria um longo caminho de volta.

a noite o telefone tocou. era ela. disse que tinha tomado todo o Delmore e que havia vomitado no carro.

disse que sentia muito e desliguei o telefone.

tornou a tocar. era ela.

disse que me amava. eu disse tudo bem. ela perguntou se era tudo que tinha a dizer. afirmei. me mandou ir a merda e desligou na minha cara.

fui para o banho e quando sai sentei na varanda. vi tantas almas passando apressadas pelas ruas. uns dentro de seus carros buzinando que nem verdadeiros idiotas e outros caminhando, correndo e se atropelando.

me perguntei: o que fazemos com a nossa sorte? o que fazemos com o amor e com nossas almas?

o telefone tocou.

não atendi.

Letícia S Souza
Enviado por Letícia S Souza em 29/05/2020
Código do texto: T6962008
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