Teu rasto
LV
Partiste do meu leito
e quem vier analisar o teu rasto
encontrara vestígios de quimera
intumiscencias
flutuantes volteios
palpitações trémulas,
um aroma passado
e o teu nome gravado
em gotas de suor
nos lençois absorvidas
estampadas
quando o ar vibrava á nossa volta
com os raios de lua
que nos tocavam o rosto.
O bater do coração
marcava o passar dos segundos,
rápida cronometria
em momentos de prazer,
corpusculas particulas indemenssionaveis
na imenssidão do tempo,
adorno da vida
e testemunha da raça extinta.
Quem vier analisar teu rasto
e tocar no leito vazio
encontrará memórias absorvidas
no amplo tecido deformado
adorno do desejo- sua extenção,
e flores crescendo
adubadas pela terrena satisfação
e férteis promessas soletradas
em pleno acto consumado
na iminente vontade
constante colorido de vários tons
do espectro da lua trespassado
pela seta do cupido empoleirado
menino depravado.
Quem vier analisar o teu rasto
encontrará o silêncio atroz
contrastando com camadas se sémen morto
nas dobras do lençol
povilhado por gotas de sangue seco
das unhas rasgando-me a pele
que deixas-te em ferida
e acrescentaste sal na carne viva
quando o relógio marcava a dor da doze.
Uma pluma pousada
no meio do cotão da roupa
da ave que partiu na madrugada
feliz por ver a luz do dia.
Quem vier analisar o teu rasto
encontrará pedaços de pele
células mortas
libertadas do hospedeiro
com esfreganços lentos
das mãos contornando o corpo
puxando-me o cabelo
fios negros de melanina
espalhados por uma brisa de vento
que se soltou da janela
vinda do céu ao nosso encontro.
Quem vier analisar o teu rasto
neste leito vazio
encontrará mais um pouco
que um comum leito vazio,
uma metáfora encorpada,
um desenho das linhas ávidas do teu corpo
interrompido por suaves limites de tempo
para te dizer que te adoro,
para te beijar, e de seguida
continuar a desenhar,
á luz de um sentimento
que não se pode analisar.
miguel lopes