Depressão, depressão,

Depressão, depressão,

que procuras em mim?

— Teu tempo, teu sonho, teu fim.

Depressão, depressão,

mas qual tempo procuras?

Ele é teu, leva-o embora,

dele faz sepulturas,

alimenta urubus;

bastam-me as amarguras

desta vida sem tempo.

Bastam-me já as loucuras,

bastam-me as amarguras,

já não quero lidar

com demônios do tempo!

Depressão, depressão,

que procuras em mim?

— Teu tempo, teu sonho, teu fim.

Depressão, depressão,

mas qual sonho procuras?

Ele é teu, leva-o embora,

dele faz diabruras,

apaixona um doente;

bastam-me as amarguras

desta vida sem sonho.

Bastam-me já as loucuras,

bastam-me as amarguras,

já não quero lidar

com demônios do sonho!

Depressão, depressão,

que procuras em mim?

— Apenas teu tempo e teu sonho.

Depressão, depressão,

meu fim já não procuras?

— Encontrei-o sob as linhas

de miserável criatura.

Mas e quanto a meu tempo?

Mas e quanto a meu sonho?

Mas e quanto a esta dor

de um caminho tristonho?

— Um dia alcançarás toda a coragem

para com uma lâmina findar

tua miséria, e a dor será selvagem

como um leão gigante a mastigar.

Então, por um momento figadal,

teus olhos encarnados serão fera

e, num grito, teu corpo de animal

visitará teu berço de outra era:

O abraço maternal da mãe perfeita,

o conselho certeiro de teu pai,

o beijo da mulher bela e insuspeita.

E eu, a Depressão, como um duende

que ri escarnecendo quem se vai,

direi:

"Eis que um menino se arrepende."

30/05/2020

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 30/05/2020
Reeditado em 01/06/2020
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