ANTIDIÁRIOS DE JUNHO III
Preciso ir bem mais fundo no meu verso
e me esvaziar inteiro de todo o meu vazio.
Tenho de me reiniciar em silêncio comigo
e escavar os meus fósseis de modo inverso:
de dentro até o fora — do espelho ao reflexo
do que desaparece sob a cordilheira do ego.
O vento traz o aroma derradeiro; o que o poeta
aguarda para fazer exatamente o que lhe resta.
O morro está calado feito este outono asséptico
e repleto da sujeira, onde o álcool não se atreve.
Na fumaça rasa da noite o poema sempre se revela
em uma coisa nenhuma: é uma oferenda sem vela.