As Luzes no Escuro
EM NOME DOS DIABOS
Vagueio só numa ilusória revolução conturbada de lata
Atrás dum pão, ao menos um fiambre, um peixe azedo
E um molho de tomate verde, comer o que mão mata
O sorriso daquela última criança...O futuro que prego.
As horas que nos amolecem a mente são um cisne
Embrulhado num esbelto discurso apocalíptico
Com autênticos indícios de devoção ao insigne
Que nos desgoverna, sim, um Judas sarcástico.
Os afagantes versos do som da sua voz, a garganta seca
Um rio de prazeres em tornar mero farrapo um petiz
Numa nasalização espontânea, o hino que seu eu toca
São as uvas do vinho da própria morte... É o que se diz.
E em nome dos diabos que repousam nos cemitérios
Vendemos o miar dum último gato vivo à imolação
Pra nos sobrar terras e kudurismo, também critérios
De como se rasga um país com risos que aqui se dão.
Poeta Ximbulikha, Angola, 15/05/2020