Náufragio

Prisioneiro dos teus olhos

Sem ninguém pra me salvar

Naufraguei no oceano

Bem no fundo deste olhar.

Minha frágil embarcação

Não seguia a linha mestra

Foi em águas tão profundas

Que pousei meu coração.

E sem sol faz tanto frio

Tanto frio em noite escura

Morto naquela fundura

Infeliz daquele rio.

Vendo a morte que aproxima

Vejo um corvo nos umbrais

Repetido um "never more"

Repetindo um "nunca mais".

Lembro Laura em Negromonte

Paula solta pela relva

Dois sóis no olhar de Anarda

A morte de Karenina...

E recordo Castro Alves,

Casimiro de Abreu

Recordo do suicídio

Do autor do "Ateneu".

Quem me dera eu tivesse

Um mastro que me amarrasse

Cera para os meus ouvidos

Para que eu jamais penasse!

Eu não juro e não quero

Solidão acompanhada

Ou amor de invernada

Tampouco de primavera.

Parto triste e parto forte

Despedida desta vida

Já me é risonha a morte

No momento da partida.

Voa corvo de Alan!

Me recolha, por favor!

Só não leve minha paz

Que deixei ao meu amor!

Se existisse um deus Tupã

Pediria aos meus iguais

Que eu entrasse em Nirvana

Que eu não volte... Nunca mais!

Gil Ferrys
Enviado por Gil Ferrys em 11/06/2020
Código do texto: T6974161
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