No ponto mais inóspito da terra

No ponto mais inóspito da terra

mais longínqua,

onde as plantas não crescem e a existência

toda míngua,

lá vive solitária uma nota menor

que quase já não soa e não produz suor.

Às vezes lhe sucedem as memórias

do passado,

descendo a passarinhos num uníssono

animado,

mas, sempre que observa o horizonte infinito,

cansa-se de lembrar-se e perde-se consigo.

Murmura melodias sem pensar

no que sejam,

e irrita-se com ventos quando os ventos

lá sobejam.

A noite, quando cai, assemelha-se ao dia;

o inverno, à primavera; a verdade, à mentira...

Meu Deus, chama essa nota para as aves,

faz depressa!

Dá-lhe de novo a chama da emoção!

Desimpeça-a!

É quanto custa para os cantos retornarem!

É quanto custa para as asas palpitarem!

12/06/2020

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 12/06/2020
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