DEVANEIO.
Quando eu nasci,
as nuvens ocultaram
as estrelas,
o céu até que tentou
me anunciar,
mas o sertão nas noites
sem estrelas se torna
um corpo mudo.
Vi o escuro lá fora,
chorei, chorei, chorei,
ouvi minha mãe dizer,
é fome!
mas fome, não era,
meu apetite era para entender
as faces do mundo.
finge estar dormindo,
ouvi grilos pipilarem,
mais tarde um galo
cantou,
e a manhã veio como uma
menina despida,
uma aurora cheia de frescor,
após , um sol com cara
de cansado,
um riachinho escorria
triste,
como um amor impossível,
eu olhei,
minha mãe descabelada
era a mais bela estrela,
eu, era apenas mais
um caipira sem chão,
nunca imaginei ser poeta,
mas a vida nos inventa todo dia,
plantei raízes em terras firmes,
tentei me inventar,
burlei a solidão,
ouvi vozes ocultas,
respirei lírios brancos,
andei descalço de pés e alma,
amei brisas e olhares,
enquanto isso minha mãe
me lapidava,
meu pai era sol de meio dia,
o tempo voou com um colibri
após longo repasto,
fui bebendo outras águas,
dando novos passos,
me tornei poeta,
inventando realidades,
agora mesmo o relógio
me destrói,
mas eu revivo nestas frases.
Enquanto existir poetas
a vida será um roseiral florido,
com zumbidos de abelhas,
e silêncios de olhares...