DEVANEIO.

Quando eu nasci,

as nuvens ocultaram

as estrelas,

o céu até que tentou

me anunciar,

mas o sertão nas noites

sem estrelas se torna

um corpo mudo.

Vi o escuro lá fora,

chorei, chorei, chorei,

ouvi minha mãe dizer,

é fome!

mas fome, não era,

meu apetite era para entender

as faces do mundo.

finge estar dormindo,

ouvi grilos pipilarem,

mais tarde um galo

cantou,

e a manhã veio como uma

menina despida,

uma aurora cheia de frescor,

após , um sol com cara

de cansado,

um riachinho escorria

triste,

como um amor impossível,

eu olhei,

minha mãe descabelada

era a mais bela estrela,

eu, era apenas mais

um caipira sem chão,

nunca imaginei ser poeta,

mas a vida nos inventa todo dia,

plantei raízes em terras firmes,

tentei me inventar,

burlei a solidão,

ouvi vozes ocultas,

respirei lírios brancos,

andei descalço de pés e alma,

amei brisas e olhares,

enquanto isso minha mãe

me lapidava,

meu pai era sol de meio dia,

o tempo voou com um colibri

após longo repasto,

fui bebendo outras águas,

dando novos passos,

me tornei poeta,

inventando realidades,

agora mesmo o relógio

me destrói,

mas eu revivo nestas frases.

Enquanto existir poetas

a vida será um roseiral florido,

com zumbidos de abelhas,

e silêncios de olhares...

Divino Ângelo Rola
Enviado por Divino Ângelo Rola em 13/06/2020
Reeditado em 21/06/2020
Código do texto: T6976566
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